Pode não parecer, mas muitas vezes um copo de água carrega muito mais do que aquela fórmula mágica que todos nós conhecemos, o H 2 O. Hoje, uma das mais novas preocupações quando falamos da água que bebemos diz respeito a um novo rol de substâncias que podem passar despercebidas: os poluentes emergentes.
Como contamos no ÚLTIMO POST , antes da água sair da torneira de nossas pias, ela passa por todo um complexo processo que tem como objetivo torna-la tão potável quanto possível. Isso significa que o objetivo aqui é eliminar da água quaisquer substâncias que possam ser contaminantes, ou seja, substâncias estranhas que causam problemas estéticos (aquela água que você viraria o rosto) e que ofereçam riscos à saúde.
Acontece que todo esse processo não consegue garantir que a água chegue totalmente livre desses compostos estranhos, já que existem inúmeras partículas sintéticas que só agora estão sendo descobertas e catalogados pelos cientistas. De acordo com estudo realizado pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA) da Unicamp, existem hoje cerca de 800 substâncias do tipo “contaminantes emergentes” presentes nas águas de 20 capitais brasileiras, a maior parte delas é proveniente de atividade antrópica, as mais comuns são fármacos, subprodutos industriais, esteróides e hormônios .
Wilson Jardim, pesquisador do INCTAA, explica que grande parte dessas substâncias acabam indo parar no esgoto, nos mananciais e são ignoradas nos processos de limpeza da água, simplesmente porque nossa legislação nada diz sobre elas. A SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), apesar de já estudar como filtrar esses componentes nocivos à saúde, diz ainda ter que esperar que o Ministério da Saúde estabeleça um regulamento de padrão de qualidade da água.
Embora ainda não existam muitos estudos relacionando o consumo destes contaminantes com riscos de saúde e danos ambientais, quando estudados individualmente nos deparamos com muitos fatores de risco, dentre os principais e mais preocupantes poluentes estão: o estrogênio, hormônio amplamente utilizado em tratamento de fertilidade de bovinos e, consequentemente, presente em grande parte do esterco agrícola, está bastante disseminado pelo ambiente e pelos corpos d’água.
Em tese de doutorado defendida dentro do mesmo instituto, o autor defende que um bom medidor para a qualidade da água distribuída à população brasileira não apresente mais que 0,1 micrograma de cafeína por litro. A razão para isso se baseia na velha premissa de que “onde há fumaça, há fogo”, o estudo mostra que existe uma forte correlação entre a presença de cafeína (mais facilmente identificável) e outros contaminantes. Se é principalmente nos centros urbanos e industriais que a cafeína está mais concentrada, então esse parece ser um bom parâmetro.
Velho e bom companheiro dos brasileiros, o café pode ajudar o país a melhorar sua qualidade da água, fornecendo um método fácil de ser aplicado, de baixo custo e que não demanda a análise individual destes mais de 800 contaminantes citados anteriormente.
Por isso, devemos dar muita atenção ao destino que damos a remédios (vencidos ou na validade), óleos, sabão, produtos de beleza e limpeza, etc. Sem a destinação correta, muitos podem acabar contaminando tanto o solo quanto a água.
Referências
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/576/agua-de-20-capitais-tem-contaminantes-emergentes
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/623/o-perigo-dos-emergentes
http://www.ufjf.br/baccan/files/2012/11/Semin%C3%A1rio-Poluentes-emergentes_2S2017.pdf
https://veja.abril.com.br/mundo/poluicao-na-india-esta-deixando-cachorros-azuis/ acesso em 20/05/2019
NASH, Jon P. et al. Long-term exposure to environmental concentrations of the pharmaceutical ethynylestradiol causes reproductive failure in fish. Environmental health perspectives , v. 112, n. 17, p. 1725-1733, 2004.